sábado, 15 de maio de 2010

Corte é pouco para frear economia!


São Paulo (AE) - O governo pouco pode fazer para conter o forte crescimento econômico brasileiro previsto para este ano. Segundo analistas, o corte de R$ 10 bilhões do Orçamento anunciado na quinta-feira terá impacto marginal, assim como o efeito da perspectiva de alta da taxa Selic em 2010. Duas das ferramentas de política econômica restantes, que seriam aumento do IOF e/ou do compulsório, também não teriam reflexo neste ano.
DivulgaçãoAceleração da economia é tão forte que será difícil de conter“Economia é timing e não há na teoria econômica nada que se possa fazer que nos dê resultados de um dia para o outro”, defende o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. Para ele, mesmo que se promova um aperto monetário com elevação do compulsório bancário, o efeito só ocorreria a partir do final deste ano.Do lado da taxa de juros, um dos instrumentos clássicos de política monetária, o efeito de uma elevação ou redução da Selic sobre a economia se dá, teoricamente, ao final de um período entre seis e nove meses. Além disso, segundo ele, essas medidas perdem eficácia em um cenário em que todos os indicadores, como crédito, mercado de trabalho e renda, estão em expansão.Opinião idêntica tem o coordenador técnico da Tendências Consultoria Integrada e ex-funcionário do Banco Central, Márcio Nakane. “Se fosse agir por meio do compulsório e pelo aumento de juros, teria que ser uma medida cavalar. Não creio que seja isso que o BC queira fazer agora”, comenta, referindo-se a um ano eleitoral. Para ele, o esforço do governo é ancorar as expectativas da inflação em 2011. “Mas isso não quer dizer que ele vá deixar 2010 ir para qualquer direção”, ressalta.Crédito“Estamos quase na metade do ano e o que o governo pode fazer agora é segurar o crescimento para o 2011”, explica o professor de economia da USP, Heron do Carmo. Ele concorda com Vale, da MB Associados, de que em economia as medidas de estímulo ou retração levam tempo para fazerem o efeito desejado. O que o governo pode fazer agora, sugere o professor, é conter a demanda agregada e aumentar a poupança interna para os próximos anos, expandindo a poupança do setor público.Em última análise, Vale e Heron concordam que a alternativa única seria a adoção de medidas de restrição ao crédito. Vale pondera, no entanto, que é pouco provável que o governo adote medidas neste sentido em um ano de eleições. “Isso o governo não fará de jeito nenhum, principalmente em um ano eleitoral”, afirma. Ele lembra que a expansão do crédito é uma das bandeiras eleitorais do Partido dos Trabalhadores (PT).Analistas dizem que governo despertou tarde demaisPara analistas, o governo despertou muito tarde para o que eles e até o board do Banco Central vinham alertando há tempos: que os elevados gastos públicos, os incentivos fiscais e monetários e a política de ampliação do crédito desembocariam em taxa de crescimento indesejável da economia vista pela perspectiva da inflação. “O governo perdeu a mão. Exagerou na dose quando iniciou a política de estímulos à economia. E não só nós economistas já vínhamos alertando para isso há muito tempo”, diz Vale.Para o economista-chefe da MB Associados, qualquer medida adotada agora só surtirá efeito a partir do final do ano. “Enquanto isso, teremos que nos acostumar com a economia crescendo de 7% a 8% por trimestre e a inflação caminhando para um patamar acima do centro da meta”, avalia.Heron do Carmo critica também a declaração do ministro Mantega de que o governo não “vai deixar a economia crescer mais de 7%” neste ano. “Não depende dele. Trata-se de um processo que já está em andamento. E se estamos crescendo muito neste ano é porque não crescemos nada no ano passado. Na média do crescimento deste e do ano passado, a economia esta crescendo 4% por ano”, calcula Heron.

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