segunda-feira, 19 de maio de 2008

Eletrodomésticos estão entre os itens de maiores despesas dos consumidores este ano no RN



As famílias do Rio Grande do Norte terão mais de R$ 20 bilhões em despesas este ano, com consumo de bens e serviços. O destaque, mais uma vez, fica para os compradores das classes C - que tem engordado vertiginosamente nos últimos anos - e B, ambas beneficiadas pelo ganho de rendimento das famílias do estado; entre 2002 e 2006 a renda média dos domicílios potiguares cresceu 51%, o maior percentual do Nordeste. O estudo Brasil em Foco, da consultoria Target Marketing, que anualmente mede o Índice de Potencialidade do Consumo (IPC-Target), despesas de R$ 20,5 bilhões no RN este ano. Valor 14% superior ao Produto Interno Bruto (PIB) do estado - em 2005, último ano de divulgação do PIB potiguar, o valor com impostos foi de R$ 17,9 bilhões. O IPC-Target do RN este ano foi de 1,17757, maior 6,6% do que em 2007 e elevando o estado da 19ª para a 18ª posição nacional. No ano passado, o índice potiguar havia registrado queda de 4,1%. Quando considerado o volume total do consumo estimado pela Target, houve um incremento nominal (sem o desconto da inflação) de 23,4%. Em Natal, o indicador foi de 0,45472, o 26º maior entre as cidades do país e o sexto entre as nordestinas. Para a capital norte-rio-grandense, a estimativa de despesas das famílias é de R$ 7,91 bilhões, representando 38,6% do total do estado. GruposA maior parte dos R$ 20,5 bilhões que deverão ser gastos no RN (27,7%), vai para manutenção e equipamento do lar, como compra de material de limpeza e eletrodomésticos. Em seguida, estão os gastos com alimentação (dentro e fora de casa) e bebidas, que representam R$ 4,1 bilhões, ou 20% do total. Além de serem os mais representantivos, estes dois itens também foram os que apresentaram maior crescimento em relação ao ano passado, considerando o Brasil em Foco 2007. Em valores nominais, alimentos e bebidas ficaram 34,3% mais caros, a maior alta entre os grupos básicos de consumo. As despesas no lar vêm logo em seguida, com encarecimento de 26,4%.Em Natal, o ranking das despesas é semelhante. Os gastos no lar representarão R$ 2,34 bilhões, o equivalente a 29,6% do total - mais do que a média estadual. Em seguida, vem a alimentação, com R$ 1,59 bilhão, ou 20,1% dos gastos previstos para a capital. TargetCriada em 1977, A Target Marketing é uma empresa especializada em pesquisas de mercado. Questionado se a Target faz alguma verificação para checar se o consumo no ano foi conforme o previsto pelo estudo, o diretor da empresa, Marcos Pazzini, informou que o potencial de consumo brasileiro em 2007 foi estimado pela consultoria em R$ 1,506 trilhão. “Os resultados divulgados pelo IBGE em março deste ano apontaram que o consumo total das famílias em 2007 foi de R$ 1,557 trilhão, portanto nossa margem de acerto é de 97%”.Ao comentar os dados do Brasil em Foco a pedido da reportagem, o economista potiguar José Aldemir Freire, do IBGE, fez simulações com dados de pesquisas do órgão “Dependendo da metodologia, meus números variaram de R$ 16,5 bilhões a R$ 20 bilhões neste ano. Portanto, acredito que, no geral e considerando uma certa margem de erro para este tipo de estimativa, o número (da Target) me parece próximo da realidade”, comenta.
Comportamento de consumo varia de acordo com a classeDe acordo com as informações do Brasil em Foco, o fluxo do dinheiro de quem mora do RN é semelhate ao nacional, com os maiores gastos concentrados nas despesas com lar (conta de água, luz, eletrodomésticos, limpeza, etc). Na vice-liderança, porém, o consumo no estado tem a alimentação, enquanto no país essa posição é ocupada pela categoria “outras despesas”, que representa dispêndios como impostos, empréstimos, cerimônias familiares, etc. Contudo, segundo o diretor da Target, Marcos Pazzini, na região Nordeste como um todo, o movimento é semelhante: “mas, obviamente os hábitos e necessidades de consumo da classe C2, a predominante na região, é distinto das classes localizados em uma posição acima na pirâmide social”. O professor Homero Henrique Medeiros, coordenador da Pós-Graduação em Marketing da Universidade Potiguar (UnP), diz que o comportamento do consumidor potiguar é similar ao do consumidor brasileiro, em função da dependência econômica dos estados maiores, o que, segundo ele, acarreta num mesmo comportamento de consumo nacional, ou seja, o brasileiro se comporta de um modo geral bastante igual. “Não existe diferenças de comportamento de consumo, e sim, diferenças de classes sociais. Cada classe tem um comportamento específico e com preferências”. Novos nichos devem ser aproveitadosOs dados da Brasil em Foco de 2006 a 2008 mostram que as classes B (rendimento familiar entre R$ 2,47 mil e R$ 4,4 mil) e C (entre R$ 912 e R$ 1,44 mil) foram as que mais cresceram sua participação no consumo. Na classe C, porém, o aumento foi contínuo nestes três anos, enquanto na B houve uma queda em 2007. Além disso, em quantidade de lares, a C cresceu 52,4% no período, chegando a 327,6 mil domicílios, metade do total do estado; contra um incremento de 44,2% da B, que representa hoje 20,5% dos lares potiguares.“É notório em todo o País o que está acontecendo com os consumidores: a ascendência da Classe C aos produtos de consumo duráveis, ou seja, casa, automóveis, eletrodomésticos e outros”, comenta o mestre em marketing Homero Henrique Medeiros. Ele diz ainda que os motivos desta migração são “velhos” conhecidos do noticiário dos últimos meses: em função da estabilidade econômica, essa classe está tendo acesso ao consumo, ou seja, está possuindo poder de compra. O consultor Marcos Pazzini explica que este fenômeno é conhecido como “migração social”. Ele esclarece que, após a estabilização econômica, houve uma migração acentuada das classes E e D para a classe C. “Apenas como exemplo, em 1997 quando o Critério Brasil de Classificação foi implementado, quase 13% da população brasileira pertencia à classe E, hoje ela representa 1,8% dos domicílio”. Segundo ele, hoje a migração já está num segundo nível, com migração das classes C2 e C1, principalmente para as classes B2 e B1. “A persistir o cenário econômico atual, este cenário se manterá”.Para Homero Henrique, essa tendência pode ser constatada nos setores da construção civil, automotivo, bancário, e principalmente, o varejo de supermercado. “Os bancos, por exemplo, estão presentes na baixa renda, oferecendo seus serviços aos segmentos mais baixos da pirâmide social”. Ele também cita a agitação do varejo supermercadista, que abriu recentemente cinco lojas em Natal, com mais uma prevista para as próximas semanas. “Daqui para frente, a partir desse ano, acredito que a maior parte das empresas vá trabalhar a classe média baixa, porque é o volume que se mostra promissor hoje no Brasil”, disse o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon RN), Sílvio Bezerra, em entrevista à TRIBUNA em fevereiro. Segundo ele, “Com as aberturas de créditos que o governo federal está dando através da Caixa Econômica e os bancos privados estão acompanhando, há uma expectativa muito grande de que esse mercado seja pujante em 2008”. O professor alerta, porém, que a forte presença do consumidor brasileiro de renda baixa na economia traz consigo o risco desse “novo comprador” empolgar-se com a possibilidade de compra e exceder sua capacidade de endividamento, causando uma grande inadimplência e, conseqüentemente, um colapso na economia brasileira.Novos perfisDados do IBGE - uma das instituições em que a Target Marketing se baseia para calcular seu IPC - mostram que o RN também seguem outras mudanças que se desenrolam em nível nacional. Uma delas é que a quantidade de mulheres no mercado de trabalho aumentou 32,7% entre 2002 e 2006, enquanto o número de pessoas do sexo feminino com 10 anos ou mais cresceu apenas 9,4% no mesmo período. Em 2006, as mulheres economicamente ativas representavam 46,3% das potiguares, mais do que a média nacional, de 43,8%. Pesquisa feita pelo shopping Midway Mall em dezembro do ano passado mostra que a palavra delas tem mais peso na hora de pagar a conta: mais de 70% das compras realizadas no empreendimento são decididas pelas mulheres.Outra tendência que se desenha é que as pessoas estão optando mais por morar sozinhas. No ano passado, 8,36% dos domicílios do estado eram ocupados por apenas uma pessoa, percentual que era de 4,37% em 1980 e de 6,86% há oito anos. Um público que também avoluma é o de idosos, que respondiam por 5,13% da população do estado em 1980 e hoje são mais de 7%. O percentual, aparentemente é pequeno, mas, somente de 2000 a 2007, a quantidade de pessoas com mais de 65 anos passou 117,8 mil para 215,8 mil, um incremento de 21,3%.
Produtos e serviços diferenciados são boas oportunidades
Outro indicador que mostra como o consumo no estado está acelerado é o movimento no comércio varejista. Dados do IBGE mostram que o setor no estado vem crescendo acima de 10% nos últimos anos, não raro superando a média nacional. Para o economista José Aldemir Freire, em um futuro próximo o comércio potiguar irá continuar acelerado, com destaques para os setores cujas vendas estão mais atreladas ao crédito (automóveis e construção civil). “Haverá espaço tanto para aqueles produtos de massa, voltados para a grande maioria da população que nos últimos anos vêm entrando com força no mercado consumidor, quanto para nichos de mercados mais sofisticados, atendendo a consumidores de classe média que, agora, irão buscar se diferenciar no consumo de bens mais elitizados”, analisa.O consultor Marcos Pazzini diz que esta classe C atual, por ser oriunda, em sua grande maioria, das classes D e E, traz o aspecto “preço” como um fator importante no momento da compra, mas já sabe diferenciar se um produto tem características diferenciadas de outro com preço menor e tende a escolher aquele que lhe ofereça a melhor relação custo versus benefício. “Além disso, existe espaço, principalmente no varejo, para oferta de serviços diferenciados a esta população, que está acostumada a ser tratada com indiferença e sem o carinho que merece. Nesta linha, podem ser oferecidos serviços tipo ‘sala VIP’ enquanto ela espera a aprovação do crédito ou a emissão do carnê, etc”, aconselha.Bate-papo /Marcos Pazzini - ConsultorQue áreas deverão ser o foco do consumo este ano? E quais as tendências para os próximos anos?Em 2008, o maior gasto dos brasileiros será com moradia, correspondendo a 27,5% de tudo que será consumido no país em 2008. Em segundo lugar, vêm as despesas com Alimentos e Bebidas, que representarão 16,6% do consumo. Como estas duas principais categorias referem-se a despesas de primeira necessidade, o destaque fica para Transportes, com 7,51% de participação nas despesas e higiene e saúde, com 7,33% do total. Este quadro se repete no RN?No Rio Grande do Norte, as despesas com Alimentos e Bebidas têm um peso maior no orçamento doméstico que a média Brasil. Dessa forma, quase 50% do orçamento da população potiguar são gastos com os dois itens mais importantes de primeira necessidade. Higiene e saúde superam a média Brasil, o que pode indicar oportunidade de mercado para empresas que atuam nesta categoria. O que as empresas devem fazer para ter o máximo aproveitamento destes cenários?Levando-se em consideração que as classes que estão dominando o consumo estão situadas no meio da pirâmide e que são oriundas da base da pirâmide, o desafio dos empresários e planejadores de marketing é entender a expectativa desta população em termos de produtos e serviços. Pode ser que o aspecto “preço” seja importante, mas não o principal para que o consumidor escolha esta ou aquela marca de produto: pode ser que “serviços” agregados tenham um valor diferencial nesta escolha.Os alimentos têm apresentado fortes altas nos últimos meses, assim como o preço do petróleo - que influencia nos transportes, especialmente com o diesel, no caso do Brasil. Isso foi considerado pelo estudo? Quais são as perspectivas destes dois setores dentro das despesas das famílias?Nosso estudo traz as projeções de consumo para 2008, com base na situação econômica atual, portanto esta alta de alimentos já está prevista no estudo. A alta do óleo diesel deve impactar o preço dos produtos no decorrer do ano e, portanto, não está considerada em nossas previsões. O aumento dos combustíveis pode impactar diretamente as despesas com veículo próprio, caso a população não modifique seus hábitos de despesas após a alta dos preços, mas a alta do óleo diesel não impacta diretamente as despesas das famílias, pois é uma despesa “corporativa”, que impactará muito mais as despesas das transportadoras e dos caminhoneiros autônomos.

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