
João Maria AlvesNEGÓCIOS - Comércio, varejo e atacado, representa mais de 62% das compras que empresas do RN fazem em outros estados15/06/2008 - Tribuna do Norte
Valdir Julião - Repórter de Economia
As entradas e saídas de mercadorias por via terrestre apontam um déficit de 58,25% na balança comercial do Rio Grande do Norte em relação a outros estados do país. O dado é de 2005, mas não perdeu sua atualidade, segundo o economista e professor universitário Odair Lopes Garcia, autor do relatório sobre “Fluxos de Comércio por Vias Terrestres de Comércio do Estado do RN”, encomendado pela Secretaria Estadual de Tributação (SET).Mesmo tendo se passados dois anos e meio da realização dos estudos, o consultor Odair Garcia explica que as informações continuam valendo, “porque as habilitadas têm sempre os mesmos fornecedores” e as relações comerciais “não mudam com tanta rapidez”.O relatório de Odair Garcia só foi concluído em outubro de 2006, mas ele explicou que, só recentemente, e por questões técnicas, é que o documento foi disponibilizado na página da SET na Internet: http://www.set.rn.gov.br/ .Nele, Garcia diz que o resultado do trabalho tem importantes indicações “sobre o grau de integração e complementaridade da economia potiguar com os demais estados e regiões do Brasil”.Segundo o relatório, os resultados foram analisados agregadamente de com acordo com sua distribuição espacial e por divisões e grupos de atividades econômicas. As principais atividades de cada grupo foram analisadas em relação à origem das compras e destino das vendas.Na época, a soma das entradas de mercadorias e serviços do Rio Grande do Norte atingiu R$ 9,32 bilhões, enquanto as saídas chegaram a R$ 3,89 bilhões, gerando um déficit de R$ 5,43 bilhões. De acordo com o relatório, o saldo comercial negativo ocorre principalmente no comércio com São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais,Ceará, Bahia e Paraíba, que somam 75% do total.A composição das entradas agregadas por grupos de atividades revela que o setor serviços é responsável por quase dois terços desse total e a atividade do comércio, isoladamente, respondia por mais de 62% das compras do Estado. Já as atividades industriais responderam em 2005 por mais de 32% das entradas, sendo que a indústria de transformação (25,74%) foi a mais significativa, seguida da indústria da construção civil (2,90%), dos serviços industriais de utilidade pública (1,12%) e agropecuária (2,46%).Quanto a composição das saídas, a indústria foi responsável por 76,26% do total, seguida dos serviços, com 21,31% e da agropecuária. Nas atividades industriais, a de transformação foi a principal vendedora, respondendo por 65,71% das vendas, seguida da indústria extrativa, 9,53%. Nos serviços, o comércio foi responsável por 20,18% das vendas do Rio Grande do Norte.“É preciso fechar as cadeias produtivas”O consultor Odair Lopes Garcia disse que esse déficit na balança comercial por causa de mercadorias que entram e saem pelas dividas estaduais, deve-se ao fato de que o Rio Grande do Norte não produz “tudo aquilo de que necessita”. Portanto, ele explica que o Estado não atende toda a sua demanda por produtos e insumos, mas o estudo pode ser benéfico, porque podem ser atacadas algumas áreas, por exemplo, para onde possam ser atraídas algumas indústrias.Um exemplo dado por Garcia é com relação a criação de camarão em cativeiro, uma cadeia produtiva na qual podem ser atraídas fabricantes de razão, pois embora já existam empresas instaladas aqui, ainda uma demanda por esse tipo de insumo, “fechando a cadeia produtiva” da carcinicultura.“O que se pode fazer é atrair empresas para suprir nossas demandas”, reforçou Garcia, considerando que outra vantagem nisso é a redução nos preços dos produtos consumidos aqui por causa do frete, que deixaria de ser cobrado sem a importância de mercadorias de outros estados.No entanto, ele afirma que esse trabalho é importante, porque a área tributária e até mesmo o setor produtivo, passa a conhecer o que “se compra e vende” nas relações entre os estados.Segundo ele, esse trabalho é inédito, porque o Rio Grande do Norte nunca apareceu nos estudos feitos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, na elaboração da Matriz do Fluxo de Comércio Interestadual de Bens e Serviços no Brasil.Essa matriz é feita a partir da Guia de Informação das Operações e Prestações Interestaduais (GI/ICMS), que possui informações sobre o valor contábil, a base de cálculo do tributo e outras operações que não proporcionam crédito de imposto.Garcia disse que o último trabalho do Ipea foi realizado em 1999 e o Rio Grande do Norte sempre esteve de fora, “porque os dados apresentados eram incongruentes”, quanto aos produtos que saiam daqui e vinham de outros estados.Estado compra mais do que vende, explica Odair GarciaOs resultados confirmam, segundo o relatório de Odair Garcia, que a economia potiguar “é importadora líquida de mercadorias e serviços”, revelando também que as atividades industriais mais importantes do Estado têm superávit significativo em suas relações intra-estaduais, “especialmente com aqueles localizados na região Sudeste”, ficando concentrada nas atividades de comércio a maior parcela das entradas e quase todo o déficit dos seus fluxos comerciais.A conclusão de Garcia é que a análise do fluxo de comércio por vias internas do RN confirma a sua característica de importador líquido de mercadorias e serviços. O resultado, segundo ele, fica praticamente circunscrito às atividades comerciais, “uma vez que esta é responsável por mais de 90% do total do déficit das relações comerciais do Estado”.Segundo Garcia, na atividade agrícola, apesar do déficit registrado nas transações comerciais por vias internas, se computados os resultados do comércio internacional, “haverá claramente um superávit, o mesmo ocorrendo com as atividades da pesca e carcinicultura”. Nas atividades industriais, a indústria extrativa, apesar das limitações da fonte de dados em relação às exportações de petróleo e gás natural, registra resultados positivos naquelas atividades em que os recursos naturais tornam o Estado um dos principais produtores nacionais.

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