segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Hector NuÑez: ‘Wal-Mart quer investir nas classes C e D’


Junior Santos03/08/2008 - Tribuna do Norte Vinícius Albuquerque - Repórter
Impressionado com a qualidade da concorrência no setor de supermercados no Rio Grande do Norte e contente com o trabalho que sua rede vem desenvolvendo no Estado, o presidente do grupo Wal-Mart no Brasil, Hector Nuñez, saiu satisfeito de sua visita a Natal na semana passada. Atualmente, com cinco lojas na capital – duas da bandeira Hiper, duas Bompreço e uma Sam’s Club – o grupo está atento às possibilidades do mercado em expansão. Em nível nacional, eles têm como principal concorrente o Carrefour que, entre os grandes grupos atuantes em Natal, divide hoje com o Nordestão a fatia de clientes da região que mais cresce na cidade. Por isso, o cubano destaca as possibilidades de crescimento que ainda existem não só na capital, mas também no interior do estado. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, ele fala das expectativas de investir cada vez mais na parcela de clientes compostas pela população de classe C e D. Analisa os efeitos da inflação na área de alimentos e explica as estratégias do grupo para driblar o impacto dos preços para o consumidor. Hector Nuñez assumiu a presidência do Wal-Mart em janeiro deste ano, substituindo ao espanhol Vicente Trius que assumiu as operações da empresa na Ásia. Já atuou como diretor da Hertz (do ramo de locação de automóveis), na empresa de sucos Del Valle e, mais recentemente na Coca-Cola, onde exerceu cargos de presidente da engarrafadora no Maranhão e diretor de Novos Negócios, uma posição de destaque. Antes de ser escolhido como presidente, Nuñez passou seis meses no Wal-Mart na posição de vice-presidente.Qual o motivo da sua visita ao Rio Grande do Norte?Esta é a primeira visita que eu faço ao estado como presidente do grupo Wal-Mart para conhecer um pouco mais do mercado, obviamente, visitar as lojas nossas aqui em Natal, que temos cinco lojas, três delas novas, oriundas de um investimento de R$ 70 milhões no ano passado. Vim conhecer nossos associados, as lojas, ver nossos clientes. Tivemos o prazer também de nos encontrar com a governadora (Wilma de Faria) com o prefeito de Natal (Carlos Eduardo Alves) para discutir nossos investimentos, o futuro e as possibilidades de acordo entre a nossa empresa, o estado e a cidade. E qual a avaliação que o senhor faz do mercado do Estado?Na nossa ótica, os nossos investimentos aqui foram muito bem fundamentados. Estamos muito satisfeitos com o desempenho que as nossas lojas estão tendo aqui. O desempenho e o engajamento dos associados do Wal-Mart e do Bompreço. E obviamente nossa avaliação é muito positiva. . Diante de tantos supermercados existentes hoje na cidade, o senhor acha que ainda existe espaço para a rede crescer?Absolutamente. Acho que tem espaço para crescer não só na Grande Natal, mas no interior do estado que tem cidades importantes como Mossoró, tem o lado do Seridó que é importante, todo o Vale do Açu que tem muito potencial. Acho que o Estado tem feito investimentos, um trabalho que está produzindo ao longo dos anos, dá uma possibilidade de crescimentos acelerados. Qual o orçamento do Wal-Mart para novas lojas neste ano?Neste ano, estamos investindo R$ 1,3 bilhão no Brasil para abertura de 36 lojas. Mais 118 reformas das lojas atuais, que já existem. Isso também inclui um investimento em um novo centro de distribuição. O Nordeste está bem contemplado nessas ações? Quantas lojas já temos previstas?Sim. O Nordeste está muito bem contemplado. Infelizmente, não posso dizer quantas lojas, mas posso afirmar que, historicamente, desde a nossa aquisição do grupo Bompreço, há três ou quatro anos, estamos investindo aproximadamente 50%, até um pouco mais que isso, no Nordeste.
Quantos empregos diretos o Wal-Mart gera no Brasil?Hoje nós temos mais de 72 mil funcionários diretos. No mundo todo são quase dois milhões de empregados. Existe alguma perspectiva de ampliação para a Zona Norte, onde o grupo ainda não atua, e que é a região que mais cresce hoje na capital?De fato, nós temos grandes oportunidades em toda a cidade de Natal, particularmente agora com a parte norte. O interessante do Wal-Mart para o Brasil, e para o Rio Grande do Norte também, é que a rede possui muitos e diferentes formatos que atendem diferentes populações, diferentes ocasiões de consumo. Então, hoje aqui nós temos supermercados, hipermercados e temos o clube de compras Sam’s. Ainda falta uma oportunidade para implantarmos a nossa marca Todo Dia que é um supermercado de bairro, focado na classe de menor renda. Este é um mercado pequeno de 600 metros quadrados que realmente oferece o melhor de qualidade de alimentos a preços muito acessíveis. E temos também outro formado chamado Maxxi, que é um atacado que atende pessoas jurídicas e físicas, também focado nesses mercados e nessa população de menor renda. Acredito que a Zona Norte, como também Natal, como também o Rio Grande do Norte têm capacidade para crescer mais utilizando todo o portfólio de marcas que nós temos.
O Wal-Mart está preocupado com as classes C e D?Absolutamente. Tanto é que se você olha para nossa estratégia, os nossos investimentos de hoje e de futuro serão muito mais voltados para as classes de menor renda, as classes C e D, e por isso temos esses dois formatos que falamos – Todo Dia e Maxxi – sendo pessoa física, sendo pessoa jurídica. Então, 60% da população brasileira se encontra nessa classificação. Eu acho que isso mostra uma grande oportunidade do varejo de atender essa parcela que quer, necessita e procura viver melhor.
Como o senhor vê o aumento no preço dos alimentos e as influências que isso tem trazido ao setor supermercadista? Há algum prejuízo para o grupo?Olha, o Brasil está vivendo um fenômeno global, não está vivendo um fenômeno brasileiro. E acho que tivemos as tendências (de aumento nos preços) no mês de maio e junho. Estes foram o ápice desta inflação de alimentos e eu acredito em uma estabilização um pouco mais daqui pra frente. Nós, como grupo Wal-Mart/Bompreço, trabalhamos muito para reduzir custos, ter mais eficiência, estando próximos aos nossos fornecedores, para não repassar ao máximo possível esse aumento de custos que está existindo hoje pela inflação. Mas o mercado cresce, a busca por alimentos e produtos não-alimentícios continua crescendo. Nós temos uma política muito clara de ter os preços mais baixos que nossos concorrentes todos os dias. E um exemplo disso é que a cesta básica da nossa rede está 9% mais barata que a pesquisada pelo Dieese (Departamento Interssindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) aqui em Natal. É o compromisso mesmo do grupo de ter preço baixo todos os dias. Vocês estão perseguindo o diferencial da marca própria com mais afinco?Sim. Com certeza, a marca própria faz parte da nossa estratégia de crescer e oferecer os clientes produtos de alta qualidade a um preço mais acessível. Então nós vamos conseguir continuar buscando e perseguindo o nosso crescimento nesse mercado de marca própria. E ele é uma parte importante para o nosso negócio. Nós temos em nosso catálogo mais de 5 mil itens de produtos como marca própria. O grupo Bompreço tem um cartão de crédito bastante difundido pela possibilidade de ser utilizado fora da rede de supermercados. Como o senhor avalia essa questão do crédito para os consumidores?Primeiramente, o grupo Wal-Mart não detém o cartão. Temos um acordo comercial, uma parceria muito boa, com o Unibanco que detém o cartão Hipercard. Sobre o crédito, obviamente, o acesso melhorou muito com a estabilidade econômica nos últimos anos que tem sido um instrumento fundamental no crescimento do varejo brasileiro. Lembrando que ainda é um crédito pessoal, que ainda é muito baixo no percentual do PIB, cerca de 11%. Quando se vê esse percentual diante de outros países em desenvolvimento e desenvolvidos, o Brasil ainda está muito aquém do limite possível que podemos ter como crédito ao consumidor. Quanto o cartão representa no faturamento do grupo?Ele difere por região. Eu não poderia dizer o percentual exato, mas ele é bastante significativo e importante. O Wal-Mart tem nos Estados Unidos uma parceria com hospitais e clínicas. Aqui no Brasil já existe este modelo?Ainda não temos este modelo. Os Estados Unidos têm um trabalho bem sucedido com terceiros que alugam espaços dentro de nossas lojas para oferecer um atendimento clínico a preços bastante acessíveis e com uma qualidade muito boa. No Brasil inteiro, em hiper e supermercados já temos uma galeria de outros produtos e serviços que agregam a experiência de compra dos nossos clientes. O grupo tem pretensão de entrar também no nicho do comércio eletrônico, o e-commerce?Sim. Nós anunciamos no início do ano que iríamos entrar no comércio eletrônico no segundo semestre e isso continua valendo.
Isso seria para todos os tipos de produtos vendidos?Vamos trabalhar no lado de alimentos para acesso a todos os brasileiros em território nacional. E a concorrência aqui na cidade? É boa? Temos um grupo local muito forte, o Nordestão.Muito boa! Gostosa (risos)! Conheço o Nordestão. São muito bons concorrentes, boas lojas, muito profissionais. Acho que o mercado aqui está em crescimento e a concorrência é muito leal, muito saudável. E todo mundo ganha e todo muito cresce.

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