domingo, 17 de agosto de 2008

Potencial do setor de construção civil está represado


Ana SilvaCONTRUÇÃO - Disponibilidade de pessoas qualificadas para o trabalho vão contra a pujança do setor17/08/2008 - Tribuna do Norte Emídia Felipe - Repórter
O intenso movimento que a construção civil atravessa é apenas a ponta de um grande novelo que deve se desenrolar por anos, como apontam especialistas do setor. Mas o comprometimento de dois dos ingredientes deste crescimento – mão-de-obra qualificada e canais oficiais desobstruídos – poderão impedir que esse mercado cresça tanto quanto poderia. É o que apontam os empresários ouvidos pela pesquisa da consultoria Adriana Benavides, base desta terceira matéria da série Foco Empresarial. Nesta terceira rodada de entrevistas, feita com 10 das mais representativas empresas da construção civil de Natal, a pesquisa apontou a escassez de pessoal como um problema que está entrando em fase crônica. Atrair, manter e desenvolver pessoas que agreguem valor à empresa foi identificada como a principal preocupação dos executivos. Falta pessoal para funções básicas como pedreiro, eletricista e gesseiro. Grandes empresas costumam ter seus próprios treinamentos – os cursos ministrados pelas companhias estão entre as principais ferramentas de gestão utilizadas por elas (veja gráfico) -, mas continuam sentindo dificuldades de encontrar funcionários. Mesmo assim, os números do Ministério do Trabalho do primeiro semestre mostraram que foi na construção civil onde houve o maior aumento no número de pessoas empregadas formalmente no estado: 15,8%, com 3.763 vagas criadas no período. E, a julgar pelas expectativas dos entrevistados, esse movimento deve continuar, pois o aumento nas contratações foi o segundo mais apontado como principal ação nos próximos dois anos. Na semana passada, a Subsecretária da Secretaria Estadual de Trabalho, Habitação e Ação Social (Sethas), Alcina Holanda, anunciou que está sendo fechada uma parceria com o Senai para formar pessoal para a construção civil. São pessoas que ao saírem do curso, certamente serão absorvidos pelo mercado. Um dos entrevistados da pesquisa revelou que provavelmente sairá do patamar de 200 funcionários para 500, em três anos, apesar de já sentir dificuldade no recrutamento.
PolêmicaOs problemas que permeiam a relação das empresas com o poder público foram a presença mais constante nas questões subjetivas da pesquisa. “A lentidão na aprovação dos projetos pela Semurb (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo) e a falta de clareza nas regras foi colocado por todos como um grande entrave”, comenta Adriana Benavides, responsável pelo levantamento. “Não queremos aprovação feita de qualquer forma, não queremos burlar as leis, queremos sim uma regulamentação clara e eficiente para sabermos o que realmente pode e o que não pode e assim termos condições de decidirmos se temos condições ou não de trabalhar da forma como está estabelecido na regra”, declarou um dos entrevistados. “Se não houver uma mudança radical na forma como o poder público vem atuando, esse crescimento não acontecerá como poderia acontecer”, disse outro. Eles questionam ainda a falta de sintonia entre as instituições municipais e estaduais na interpretação da legislação ambiental. Os entrevistados criticaram também as falhas na orientação aos profissionais envolvidos em um projeto. “Você chega com uma documentação igual ao do projeto anterior, aí eles dizem que está faltando tal documento. ‘Mas como se na anterior não precisou? Sim, mas agora precisa...’. Aí você vai buscar, quando volta eles dizem, ah, está faltando tal coisa....” É inacreditável!” Os entrevistados citaram, ainda, cases de sucesso, como o trabalho de relacionamento feito pela Caixa Econômica Federal junto às empresas, para identificar problemas e focar nas soluções.Para Adriana Benavides, a resposta a este problema poderia ser “extremamente simples” se todos os envolvidos - os chamados stakeholders - cumprissem o seu papel no jogo da competitividade. “No entanto, infelizmente, isso ainda não acontece, e o que vemos como conseqüência é um certo atraso ou, no mínimo, um avanço infinitamente menor e mais lento do que poderia acontecer” “Não vejo outro caminho a não ser o de ‘caminhar juntos’. Sozinhas algumas empresas até têm conseguido trilhar seu próprio caminho com razoável sucesso, mas, com certeza, muito menor do que o possível”, comenta a especialista.Custo dos problemas é muito altoDados da Caixa Econômica Federal, referência em crédito imobiliário, mostram que entre 2004 e 2007, os financiamentos voltados para consumidores finais e construtoras cresceu 42,7% no Rio Grande do Norte. Foram R$ 129,7 milhões no ano passado. Este ano, 70% deste valor já foi emprestado até julho. E este é apenas um banco dentre os vários que oferecem dinheiro a quem quer construir ou comprar imóveis. A consultora Adriana Benavides destaca que as empresas potiguares “encontram-se hoje em posição privilegiada” para desfrutar dessa prosperidade impulsionada por esse boom imobiliário, “uma vez que investiram profundamente tanto em inovações tecnológicas como de gestão”. Mas esse cenário está prejudicado pelas barreiras que se impõem ao setor. Adriana considera essencial que se desatem alguns entraves do relacionamento entre o poder público e a iniciativa privada. Porém, para ela, a questão mais grave é – assim como foi nas etapas anteriores da pesquisa, com representantes de restaurantes e da hotelaria - a falta de mão-de-obra qualificada. “Isso se agrava ainda mais no caso da construção civil, uma vez que para eles o problema não é nem que essa mão-de-obra seja desqualificada, é que realmente não existem esses profissionais, tendo-se que “importar” de outras cidades, estados”. Ela explica que os custos desse tipo de problema para as empresas são muito altos: salários inflacionados, retrabalho, comprometimento da qualidade final do produto e atrasos nas obras por não terem pessoas para realizar determinadas tarefas.Entrevista - Ana Míriam MachadoA titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, Ana Míriam Machado, garante que a instituição está buscando mecanismos para dar mais celeridade aos processos e explica que há casos em que a ausência de documentos é a principal causa da demora na análise de processos.
Quantos processos a Semurb analisa por ano? Esta demanda varia muito. Quando surgem novos vetores como no caso de Ponta Negra e agora na Zona Norte com o advento da Ponte Newton Navarro, a procura para licenciamento tende a aumentar. Podemos dizer que em média são analisados anualmente cerca de 1,5 mil processos, que como já disse, esse número pode aumentar dependendo do momento.Quantos funcionários tem hoje a Semurb e quantos são responsáveis pela análise de processos? Veja bem, hoje a Semurb tem 255 funcionários efetivos, já incluídos os do Parque da Cidade. - contabilizando todos os setores pelos quais a maioria dos processos passam, são envolvidos cerca de 24 técnicos neste serviço, que dependendo do grau de impacto pode requerer ainda uma análise mais específica, como no caso de grandes empreendimentos que são encaminhados ao Conselho de Planejamento Urbano e meio Ambiente (Conplam) para apreciação.
Porque a senhora acha que a Semurb é sempre foco de reclamações por parte dos empresários da construção civil?Acredito que por ser uma secretaria responsável por monitoramento, fiscalização e análise de projetos.
A senhora considera os serviços da Semurb eficientes? E O que tem sido feito para melhorar seu serviço? Ao longo dessa administração a Semurb tem travado uma luta constante para oferecer uma estrutura mais eficiente e ágil ao contribuinte. Dentre as várias ações podemos destacar a realização do concurso em 2004 e 2007 para dotar a secretaria de uma equipe multidisciplinar. Dentro de suas atividades ela vem atuando em diversas áreas, seja no cuidado das emissões de suas licenças, seja executando e viabilizando acessibilidade, reabilitando e estruturando áreas de lazer para a população, educando e conscientizando o cidadão através de campanhas educação ambiental e da implementação de diversos pontos de referência nas atividades ecológicas municipais. Hoje ela passa por uma modernização de seus procedimentos administrativos e legais, visando dar maior agilidade no desempenho de suas atribuições e maior satisfação dos que fazem uso de seus serviços. Podemos citar a atualização do parque de informática, com a aquisição de novos equipamentos.
A senhora acredita que os empresários também têm culpa na demora dos processos? Ao analisar projetos, principalmente de grandes empreendimentos é necessário informações complementares e documentos para dar maior suporte a análise, que muitas vezes não são oferecidos, isto faz com que o processo pare. A parte interessada é comunicada e instruída a trazer os documentos ou informações complementares para finalizar o serviço. A contagem dessa demora pode ser atribuída, na maioria dos casos, ao contribuinte que não apresenta a documentação solicitada num curto espaço de tempo.

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